segunda-feira, 6 de junho de 2011

Prostituição por diploma













Cada vez mais garotas de nível universitário são atraídas para a prostituição





Por Fernanda Campos e Sergio Nonato






Elas são bonitas, jovens e descoladas. Saem com amigos, frequentam a universidade, vão ao cinema e gostam de balada. O que torna essas meninas "diferentes" é a profissão que escolheram. Nos bancos da faculdade, com o namorado, em casa com os pais ou os filhos, ninguém desconfia. Mas, para ganhar dinheiro, elas mudam o nome, alugam quartos e se encontram com homens que nunca viram. Depois de terminarem o sexo, recebem o dinheiro do cliente e pagam as despesas de casa e dos estudos.






As histórias de vida são diversas. A motivação, geralmente, é o dinheiro. A maioria das jovens entrevistadas relatou que começou a usar o corpo como instrumento de trabalho por falta de opção no mercado de trabalho. Na verdade, segundo elas, os empregos e estágios até existem, mas não rendem o suficiente para se manter e pagar os estudos. São seguras em afirmar: ganham em uma semana de trabalho mais do que receberiam em um mês em uma ocupação tradicional, de carteira assinada, dessas que são almejadas pela maioria dos recém-formados.






O psicólogo social e professor universitário Lúcio Mauro dos Reis explica que esta é uma saída para jovens de diversas classes sociais e que existem vários motivos para optarem pela prostituição. “Com isso, a pobreza e a falta de oportunidades deixam de ser as únicas propulsoras dessa condição.”






Apesar de a prostituição não ser proibida pela Constituição brasileira, portanto uma atividade legal, as pessoas ouvidas dizem sentir vergonha de admitir para a família e amigos que fazem sexo por dinheiro. Afirmam, ainda, que é uma profissão passageira. Que vão se formar e fazer carreira no curso em que se graduaram. Ou que se casarão e mudarão de vida.






De acordo com o psicólogo, “o anonimato, clandestinidade ou qualquer outro nome, explicita a necessidade de ocultação da prostituição, que historicamente é algo pecaminoso e errado”. Ele aponta que, embora a sociedade do século XXI seja mais liberal e permissiva, pode-se dizer que muitas pessoas manifestam, ainda que veladamente, conceitos de uma “época remota, conservadora e rígida”.






Quem são...






Ela separou-se do marido e tem um filho de nove anos. Cursa o 8°período de direito e já experimentou estágios na área. Mas RTS, 29 anos, não estava satisfeita.

O ex-marido ajuda com pequenas quantias, mas sua renda não dá sequer para bancar a faculdade.




TMR é uma jovem solteira da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Namorou por quatro anos e não tem filhos. Trabalha de segunda a sábado, por conta própria, em uma quitinete alugada. É graduanda em direito. Uma vida comum para uma jovem de 24 anos, você deve estar imaginando. É o que parece, com exceção de um detalhe: TMR é Hellen, pseudônimo que escolheu para trabalhar como garota de programa.






CMTS, 21 anos, é estudante do curso de publicidade. Quando sua família mudou para a região Sul do país, ela permaneceu em Belo Horizonte, mas a situação ficou difícil. Tem um noivo que mora em uma cidade próxima, com quem se encontra aos finais de semana. Ela teme que ele conheça a Aline, nome que ela inventou para ganhar dinheiro.






... e o que fazem






Hellen conta que começou a fazer programas há cinco meses porque terminou um relacionamento de quatro anos. “Aceitei o convite de uma amiga, mas atualmente trabalho em outro local. Ela continua onde comecei.” Já foi descoberta e correu o risco de ser delatada, mas hoje ela se diverte ao recordar. “Fui comprar um carro e parte do veículo foi financiado. Como referência dei o número do telefone da ‘clinica’ em que trabalhava. Um irmão do meu namorado era funcionário da agência. Ele descobriu meu segredo e contou para meu ex, que terminou comigo mas não falou para minha família”. Os seus clientes, na maioria, são homens casados e chegam ao local por anúncios que veicula em jornais. “Depois de um ano fazendo programa, tenho, vários clientes, que viraram amigos”. Valor cobrado pela hora do programa mais simples: R$ 150.






Aline é prostituta há dois meses. Ela argumenta que não se envolve com os clientes e que encara como outro trabalho qualquer, e que também existe profissionalismo. Depois de visitar várias casas, se estabeleceu em um bairro da região noroeste de Belo Horizonte, em um local discreto, onde trabalha sem intermediários. Ela aponta que perde muitos clientes por ser tímida e não fazer tudo. “Mas em breve vou me casar e deixar este tipo de trabalho”, planeja. Preço do programa/hora: R$ 200.







Isabela já ganhou dinheiro para fazer sexo há três anos, durante seis meses. De acordo com ela, devido à crise financeira e à separação do marido, foi necessário voltar a se prostituir.






“Tenho muito medo de ser reconhecida, por isso trabalho em locais onde é possível ver os clientes antes do atendimento.” Outro receio de Isabela é encontrar algum ex-cliente, no mercado de trabalho. “Vou continuar trabalhando assim até me formar e conseguir ingressar na minha área de formação, que é Direito”. Ela conta que precisa sustentar o filho e ajudar os pais. De acordo com a jovem, ultimamente ela tem “fechado” a maioria de seus negócios através de sites na internet. Quanto cobra: R$ 150,00 o programa mais barato, por hora.





Não é por acaso que a prostituição é chamada “a profissão mais antiga do mundo”. O psicólogo Lucio Mauro dos Reis relembra que essa prática existe desde a Antiguidade, inclusive entre os nobres. Mas mesmo resistindo ao tempo e à cultura, à repressão e ao preconceito, a tradicional atividade vai se adaptando, entrando em conformidade com o seu tempo.Dentro de uma realidade capitalista, a velocidade da informação e o impacto da tecnologia também são percebidos no mercado do sexo.






Exposição virtual






Basta digitar as palavras "acompanhantes belo horizonte" em um site de buscas e você perceberá que eles existem aos montes e seus mecanismos são extremamente simples. Com apenas um clique o internauta se depara com uma gama de opções. É possível fazer analogia às famosas "vitrines" de prostitutas na Holanda, país onde a prostituição é legalizada para pessoas acima dos 18 anos. "São, na verdade, casas alugadas com amplas janelas e cada cidade holandesa tem o seu Distrito/bairro da Luz Vermelha - Red Light District", explica Maria Eliza Oliveira, que já

morou no país por três anos.




Também nestes ambientes virtuais, as garotas são expostas para a avaliação do interessado, que está do outro lado da tela. Como produtos, as fotos são separadas pelas sessões de loiras, morenas e ruivas, por exemplo. O possível cliente, ou o simples curioso, seleciona a foto que chama a sua atenção e se informa a respeito da idade, nome (fictício, certamente), o que elas fazem, qual o valor, quando atendem,

e o número de celular para contato. São inúmeros sites, com preços e ofertas variadas, de acordo com a demanda existente. .É muito simples: o interessado acessa o site, escolhe o que precisa, liga e marca "a prestação d serviços". É o e-commece do sexo.





Chama a atenção a idade das mulheres, que vai desde os 18 anos até os 23, mas é certo que em grande parte dos casos não correponde à realidade. A preferência por meninas jovens estimula um grande problema social no Brasil, que é a prostituição de menores de idade. O turismo sexual e tráfico de jovens também são questões a serem combatidas.






É importante destacar que a prostituição não é uma prática exclusivamente feminina. É claro, todos sabem, basta ler os anúncios de jornais ou entrar em um desses sites, e você terá acesso a anúncios e fotos de homens de todos os tipos, para todos os gostos e por todos os preços.






As cicatrizes






As características peculiares da prostituição, como os riscos de agressão e de contrair doenças, por exemplo, se refletem no comportamento e no papel social dos jovens que optam por essa prática. Assim como a formação pessoal é resultado, em grande parte, das experiências vividas e das lições que delas tiramos, com o sexo não é diferente.






“Um dos grandes problemas que estão associados à prostituição é que pode surgir, paralelamente, o uso de substâncias psicoativas que geralmente desembocam na dependência química. E não em menor escala, conforme apontam várias pesquisas, doenças sexualmente transmissíveis, como AIDS”, afirma o especialista Lucio Mauro. Por consequência, a prostituição, de acordo com ele, tem se tornado um problema de saúde pública.






Fica fácil entender, por exemplo, porque tantos municípios brasileiros já tentaram adotar medidas que coíbem a prostituição e porque tantos parlamentares já propuseram projetos de lei que criminalizam a atividade, embora esta não seja ilegal segundo a Constituição Brasileira.






Além disso, segundo o especialista, a discriminação e o sentimento de culpa torna essas pessoas mais vulneráveis a uma convivência com parceiros e companheiros violentos, aumentando a possibilidade de agressões e de episódios de risco à vida. “Sendo assim, o medo e a insegurança em que vivem podem trazer sérias conseqüências psicológicas a longo e curto prazo, podendo causar deteriorização de aspectos fundamentais da personalidade, principalmente em adolescentes e jovens. Alguns tentam sair da invisibilidade e assim, acabam por se tornar totalmente invisíveis diante da sociedade, dificultando o processo de integração social.”





E depois?




Lucio Mauro dos Reis é psicólogo social, professor universitário, e coordenador técnico de pesquisas e projetos voltados para pessoas com deficiência, dependentes químicos e outras categorias de excluídos



De acordo com a sua experiência, ele aponta que deixar a prostituição e ingressar nas áreas em que são formados é uma possibilidade efetiva para estes jovens, apesar de não ser fácil. É uma escolha que envolve o início de uma nova vida, onde a “imagem consolidada deve ser desconstruída para dar lugar a outra(s) que a nova vida requer


























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