Por Daniele Vivian e William França Ray
Não há limites para a bizarrice, inclusive na política. Com um marketing simples e estrategicamente elaborado, surgem personagens como Tiririca, Mulher Pêra, Romário e outros para tentar chamar a atenção dos eleitores. No nome, tanto quanto na aparência, a política nacional fica submetida a piadas na boca do povo. Famosos apostam em uma candidatura na intenção de que a fama conquistada no meio artístico o ajude a ser eleito. E na maioria das vezes dá certo. Falta uma análise crítica por parte dos cidadãos a respeito dos candidatos e de suas propostas.
Mais do que boas propostas e cabos eleitorais ativos, um bom candidato precisa ter um nome forte, algo que o eleitor grave facilmente e saiba em quem está votando. Na relação de candidatos a um cargo de deputado federal, por exemplo, a criatividade foi a principal aliada dos políticos. Os nomes de urna podem até soar estranho para alguns, mas dizem muito sobre a história de quem está sendo votado.
Tiririca, humorista famoso da televisão brasileira, obteve pelo Partido da República (PR), 1,35 milhões de votos. A campanha do “palhaço” caracterizou-se pelas piadas e pelos bordões utilizados: “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica” e "Oi, eu sou o Tiririca da televisão. Sou candidato a deputado federal. O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois, eu te conto”. Fica para os pesquisadores e cientistas políticos a tarefa de entender ou explicar se o sucesso de Tiririca foi realmente voto de protesto, estratégia de um marketing ousado ou completo desencanto dos cidadãos com a classe política. A modelo e dançarina Suellen Rocha, aliás, “mulher Pêra”, também embarcou na disputa a uma vaga na câmara dos deputados, nas eleições de 2010.
Seria a popularidade um critério para concessão de legenda? Ela diz que resolveu candidatar-se a convite do presidente do Partido Trabalhista Nacional (PTN). Assim como Tiririca, a candidata chegou a admitir em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que não sabe absolutamente nada sobre a Câmara dos Deputa
Ex
O candidato a deputado federal nas eleições 2010 diz que João Rasgado não é um personagem, e sim, um grito contra a exclusão social e uma crítica à falta de respeito da classe política para com os cidadãos. “O Rasgado representa a maioria sofrida, aquele que se perde nas impurezas de nossa sociedade viciada”, afirma João Queiroz em seu protesto. Ele diz também que, diferentemente dos outros candidatos considerados bizarros, ele levanta questionamentos para a sociedade.
O objetivo da palavra “Rasgado”, segundo ele, é criticar o cenário político atual. “Rasgado” significa poder bater de frente com o desrespeito aos cidadãos. Quando questionado sobre o surgimento de candidatos bizarros, João afirma que mais importante que a bizarrice, quase sempre, atrelada à necessidade de fixar-se no subconsciente do eleitor, deve-se levar em conta seus questionamentos e, principalmente, seu entendimento quanto ao que é política. “Se for um candidato diferente, estranho, pode ter um sentido legal ou não. É preciso observar o que ele fala, como ele vive, se ele entende de alguma coisa porque, lamentavelmente, uma grande parcela dos candidatos bizarros, na qual eu fui incluído também, não sabe nem o que é política nem qual o papel do parlamentar”, atenta João Rasgado.
Carlos Ranulso, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que pessoas famosas, assim como qualquer indivíduo da sociedade tem o direito de candidatar-se, pois a legislação brasileira permite que qualquer pessoa possa disputar uma vaga para cargos políticos, e que a análise dos candidatos deve partir dos eleitores. “Votamos em indivíduos, assim como os famosos. Qualquer pessoa comum pode disputar um cargo: político, radialista, músico, jogador de futebol, jornalistas”, completa.
Os votos alcançados pelo humorista Tiririca foram considerados pelos cidadãos como votos de protesto. Ele explica que isso é uma questão de interpretação. “O voto é pessoal, a política do Brasil é inteiramente baseada na democracia. O fato de ser famoso o ajudou a ser eleito porque ele é uma pessoa conhecida, popular, mas nem sempre dá certo. A mulher Pêra, por exemplo, não foi eleita”, comenta.
O cientista político diz que, cabe a cada indivíduo que se compromete a um cargo político o papel de exercer com idoneidade o cargo pretendido. “Afirmar que pessoas como Tiririca, mulher Pêra, jogadores de futebol, ou qualquer que seja o candidato comprometerão o desenvolvimento do País é fazer um juízo de valor incorreto, pois não se leva em consideração o personagem, e sim, o indivíduo, que pode mostrar ou não a capacidade para exercer o cargo”, explica.
Uma das críticas mais frequentes à democracia representativa é que a opinião do povo só é consultada uma vez a cada quatro anos. Quando o jogo democrático começa, cabe aos eleitores avaliarem os candidatos e seu comprometimento para exercer o cargo pretendido.
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